domingo, 3 de fevereiro de 2008

"Causos" da Noite Paulistana I

Chovia como sempre na capital do Cinza, a noite tinha tudo para ser como todas as outras, a não ser por um detalhe: Ela estava a sua espera. Combinaram tudo na tarde anteriror depois de um encontro pela confusas ruas do centro velho.
Ele liga para confirmar, vai que estava sonhando. Encontro confirmado. A garoa cai fina e molha o seu corpo, mas ele parece estar protegido, com o manto da felicidade. Ao passar pelas pessoas diz boa noite, conversa sobre futebol com o gari que tranqüilamente cumpria a sua missão de tentar manter a cidade limpa. Entra na garagem e pega o seu meio de transporte, e sai rumo à felicidade.
As ruas da cidade parecem estar pintadas de ouro, por toda a cidade é possível ouvir a sua voz cantando. No farol as pessoas acham estranho tamanha felicidade, hoje em dia ser feliz é uma coisa não muito aceitável, e demonstra-la pode ser perigoso, mas ele não liga.
Sai do leste, assim como sol faz todos os dias, ele parece iluminar a terra do cinza, passa pela Pça Roosevelt, casa dos alternativos do mundo teatral underground, e pensa: "Amanhã!! Hoje eu sou o protagonista" e segue subindo pela consolação. Na Paulista, o cartão postal da cidade, ele para só para admirar a pequena beleza que tem a avenida à noite, pois comparada a ela, esse é o seu tamanho. Desce a Rebouças, pega a marginal e entra em uma das suas travessas, está cada vez mais próximo do ponto de encontro.
Enfim, chega. As garoa fina que cai na rua serve de sinfonia para aquele momento, cada gota parecem fazer a contagem regressiva, entra na fila e nem se incomoda com os burburinhos, alguns reclamam da vida, outros do tempo, da saúde ou reclamam só para ter o que falar. As mulheres desfilam sua beleza nas saias e vestidos que marcam as suas siluetas, tendo os homens as seguindo com os olhos, tudo isso lhe parece engraçado já que hoje só tem olhos e pensamentos para ela, e chega a sua vez de entrar. Passa pelo segurança e pelo caixa... está frente a frente com o portal. Atrás daquela porta está ela:"Como será que ela está?" sua cabeça é tomada por uma tormenta de pensamentos e sensações, seu corpo parece formigar, ele não sente mais as pernas, e por um impulso mais forte, uma ajuda externa ele entra na casa, que ainda não está lotada, o som da zabumba parece marcar o tempo do encontro, ele olha para todos os lados e nada vê.
Já são passados 20 minutos dentro da casa e nada dela chegar, as moças que lá fora estavam reclamando da vida e fugindo dos olhares devoradores dos homens aqui parecem gostar e o jogo muda um pouco e a caça vira caçador, e ele agora foge das investidas de algumas delas, está preservando a 1º dança para ela. Decide ir ao banheiro.
Já são passados 30 minutos e ele está voltando do banheiro, quando o mundo parece diminuir o andamento, a música parece tocar mais lenta, as saias parecem estar sendo conduzidas com as mãos, os cabelos das moças flutuam como se o mundo quisesse toca-los. E no caminho contrario está o seu coração que dispara, lá está ela: linda, um sorriso encantador, dos seus olhos parecem sair uma luz que ilumina todo o espaço, o lindo vestido preto deve ser para destacar as maças do rosto avermelhadas e os inebriantes olhos azuis. O cabelo negro escorrido parece uma cachoeira, em que ele deseja se banhar.
Ela o vê e vem em sua direção e quando o abraça o mundo congela no tempo, o seu perfume encantou todos os homens que estava no seu caminho, foi a maior quantidade de torcicolos já registrada num único local. Ele parecia não acreditar que uma mulher tão linda existisse, e principalmente estava com ele. Ela é perfeita!! Se Afrodite existiu, aqui está de onde foi extraida a sua inspiração. A sua noite estava quase completa. Foram para a pista dançar. Os corpos suados pareciam se completar, a sua mão, deslizava pelas costas dela, querendo identificar cada ponto daquele corpo desenhado pelos Deuses. Os seus cabelos foram afagados por diversas vezes, e a cada final de canção um beijo no rosto era forma de agradecimento de ambos por se permitirem aproveitar aquele momento.
Eis que chega o Xote (O xote é dançado devagar, é encostar a cabeça no ombro do parceiro, fechar os olhos, e dois pra lá e dois pra cá.) a cara dele não nega a felicidade, o sorriso no canto do rosto, parece denunciar que a muito ele esperava este momento. E ela parece entender o recado, pois ele não precisa nem estender a sua mão. A sintonia de ambos está afinadíssima, e parece que ela também estava só esperando este momento. Os corpos se unem, deixam de ser dois para se tornarem um, com um braço ele a toma e ela ao encostar a cabeça no seu ombro como se dissesse: "sou tua". Assim permanecem, por quase toda a musica até que ele carinhosamente levanta o seu rosto, olha nos olhos e a beija. O mundo que recuperava o seu ritmo normal, novamente congela, estão os dois no centro da pista a se entregarem um para outro. E assim permaneceram música após música, beijo após beijo. carícia após carícia.
Ele teve a noite que sonhou e recuperou o que havia perdido. Dizem que alguns dias depois ele entregou para ela uma caixinha, onde vinha guardando algo muito importante, algo que ele quis dar para outras pessoas, mas o destino não deixou, pois a dona ainda não havia chegado. Nesta caixa estava escrito: Eis me aqui!! Faça bom uso!!

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