sábado, 18 de abril de 2009

Conto Paulistano Nº 07

Era sexta feira, uma dessas sexta feiras de um mês qualquer durante o ano. Para toda a população era só mais uma sexta feira. Mas para Jorge não. Para ela era a sexta feira que ficaria guardada na sua memória. A Sexta feira mais importante da sua vida. Um divisor de água. Ele havia planejado tudo. Jorge é um desses caras extremamente metódicos. Desses que tem etiquetas em todas as gavetas, desses que o guarda roupa é montado de forma crescente de acordo com a paleta de cores. Além de tudo isso, ele era romântico, romântico não.... muito romântico.

Era um gentleman de primeira linha do tipo que abre a porta do carro para a namorada, manda flores... desses que se preocupa com a sua companheira. Desses que sabe exatamente quando a TPM esta para chegar e providência os chocolates e evita qualquer discussão nesta época. Mas Jorge ainda não é casado. Eu disse ainda, por que isso fazia parte dos seus planos de vida. Desde de pequeno. Assim era a vida de Jorge. Toda planejada.

Ele estudou a vida inteira no mesmo colégio. Colégio Santo Antônio é um colégio de padres, e foi lá que conheceu a mulher da sua vida... A doce e carismática Fabiana.

Ah!! Fabiana... não tinha quem não se apaixonasse por ela. Ela era linda, simpática, inteligente... e como toda moça inteligente ela namorava um rapaz perfeito... não, ela não namorava Jorge... porque o rapaz perfeito nos tempos de colégio era Marcos.

Marcos era um ano à frente dos dois. Era jogador de futebol do time da escola, era da turma dos descolados... e durante a escola isso é o rapaz perfeito!!

Jorge alimentou uma paixão platônica por todo o tempo de colégio, mas ela só foi reparar nele quando foram para a Faculdade. Ele era o único que ela conhecia na turma... e também era o mais inteligente, educado... passara a chamar a atenção. Ele tinha trocado o velho óculos de grau por lentes de contato. A sua roupa que antes parecia de velho, hoje se adequava aos padrões. Todos os meninos se vestiam como Jorge. Socialmente. Era o mundo de verdade.

Bom, com o passar dos quatro anos Jorge foi se tornando um homem de negócios importante, bem sucedido. Ficou cada vez mais atraente. E conquistou o coração da Bela Fabiana. E Marcos? Sumiu, a ultima noticia que tiveram sobre ele é que tinha virado Motoboy.

Jorge e Fabiana estavam formados, ele muito bem sucedido. Ela entrando no mercado de trabalho, ela não teve tanta sorte como ele.

Voltando para a Sexta feira especial para Jorge. Jorge viam planejando este dia há pelo menos 06 meses. Já eram mais de 06 anos de namoro. Poderíamos considerar um namoro firme. Jorge era completamente apaixonado por Fabiana, e ela também era apaixonada por ele. Meu avô dizia: O amor se constrói com o tempo. Eles já conviviam tempo bastante.

Sexta feira Jorge liga para Fabiana e combina de pega lá no trabalho, ela havia combinado que o pai dela iria pega lá, mas em cima da hora o pai ligou dizendo que não poderia. Só restou aceitar a carona do sempre solicito Jorge.

Eram quase 19 hs, o céu já estava escuro. Na porta da empresa lá estava Fabiana a espera de Jorge que havia ligado cinco minutos antes avisando que estava chegando e se desculpando pelo atraso, era culpa do trânsito, em São Paulo, fato nada raro. Um pouco mais atrás de Fabiana podia se ver um rapaz colocando a capa de chuva era um dos motoboys da empresa.

Jorge para o carro e abre a porta para Fabiana, Ela entra os dois se beijam trocam pequena carícias. Jorge então percebe o rapaz e diz:

- Coitado do Rapaz. Ouvi no rádio que vai cair um pé d´água. Nessas horas eu prefiro estar de carro.

- Pois é!!

- Que pena!! Um dia tão bonito. Fechou do nada.

Jorge e Fabiana foram embora conversando sobre o dia de trabalho deles quando Fabiana percebe que Jorge errou uma rua.

- Jorge, você tá mudando o caminho?

Ele carinhosamente diz:

- Não. Eu to indo pra casa.

- Mas nem a minha casa, muito menos a sua é pra cá.

- Calma. É um caminho novo. Vou experimentar. Ta muito trânsito.

Fabiana estranhou justo Jorge tão metódico mudando o caminho. Até que de repente Fabiana diz:

- Jorge, Eu to um tempo pra te dizer isso, você anda meio diferente nos últimos meses, eu ando diferente e talvez....

Toca o telefone de Jorge. E ele prontamente atende.

- Oi... To no trânsito... Acabei de pegar a Fabiana e to indo pra aí... Tá todo mundo aí?... Que maravilha... Tudo bem!! A gente já ta chegando... Poe mais água no feijão... Tá bom Dona Janete... outro.

- Minha mãe? O que ela queria?

- Saber se a gente ia demorar.

- Ah!!...

- O que você tava dizendo?

- Que a gente precisa conversar sobre o rumo do nosso...

Uma freada brusca faz o assunto cortar novamente. Apos o susto Jorge sempre preocupado vai verificar como esta a sua amada.

- Você tá bem?

- To. Acho que foi só o susto. Quanto imprudência!!

Apos alguns metros Jorge para o carro à frente da garagem de um prédio, que Fabiana não conhece. O Prédio é um local de alto padrão. Novo. Bonito. Fabiana e qualquer outra pessoa se encantaria.

- Jorge, que é que a gente tá fazendo aqui?

- É a casa de uma pessoa que eu preciso deixar umas coisas.

O porteiro abre o portão. Jorge sempre simpático cumprimenta o porteiro. Estaciona o seu carro na vaga do apto 91, que depois Fabiana foi saber que era o apto da cobertura. Na vaga ao lado estava estacionado um carro novinho em folha, com plásticos no banco, sem placa. Fabiana reconhece o modelo. É o seu preferido. Os dois vão até o elevador e sobem, vão até a cobertura. Ao sair do elevador. Fabiana reconhece um quadro que havia dado de presente para Jorge há muito tempo atrás, mas não comenta nada. Pode ser outro, é um quadro conhecido. E deixa pra lá!!

Mas pergunta pra ele:

- Quem mora aqui?

Jorge coloca a mão no casaco e tira uma caixinha e com um leve sorriso no rosto, com uma cara de criança que aprontou e foi pega. Entrega a caixinha para Fabiana e Diz:

- Nós.

- Nós quem?

Responde ela sem entender.

Então ele abre a porta para ela e pede para ela ir à frente.

- Tá escuro?

Diz ela.

- O interruptor está do seu lado esquerdo.

Ele responde. Quando ela acende a luz surge um apartamento todo decorado... lindo... pronto para morar e de trás do sofá que corta toda a sala surgem os pais de Jorge e Fabiana com um enorme grito de: Surpresa!!

Fabiana sem entender nada, olha para a cara de Jorge e diz:

- Jorge, o que é isso? O que isso significa?

- Amor, Eu sei que eu ando meio em falta com você nos últimos meses. Que nós não estamos como antes. Mas é porque eu estava preocupado em deixar tudo pronto sem que você percebesse. E se não fosse a Dona Jeanete não iria conseguir. Muito obrigada Sogra querida!! Eu tava preparando este presente pra você. Mas não é só isso...

Jorge então abe uma linda porta de correr ao lado da sala que estão e dentro desta sala esta um quarteto de cordas e um cantor. Quando Jorge abre a porta o quarteto começa a tocar a música preferida de Fabiana. Eleanor Rigby, dos Beatles.

Fabiana se desmancha em lágrimas. Ela que veio durante todo o trajeto seca, sem dizer quase nada, estava as lágrimas. E quem não ficaria com uma surpresa dessas?

Jorge então diz:

- Mas isso não é tudo.

- E Tem mais? Diz Fabiana.

- Agora que nos já temos onde morar, eu posso finalmente fazer o que eu queria fazer a muito tempo. Tudo está pronto!!

Jorge se ajoelha aos pés da sua amada, o quarteto passa a tocar o primeiro movimento de Four seasons, Spring de Vivaldi. Jorge tira do bolso uma caixinha menor que a anterior e aos pés de Fabiana diz:

- Fabiana Maria Soares você quer se casar comigo?

Fabiana que já estava as lágrimas agora se desespera. Começa a gritar. Os pais não entendem. que tipo de reação mais estranha. Os músicos ficam tão chocados que param de tocar. Fabiana solta um grito que parecia estar lá dentro dela há muito tempo. Um grito que ela vinha guardando parecia há algum tempo. Um grito de uma única palavra.

- NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!! Eu não posso!! Eu não posso me casar com você!!

A família de ambos não entende!! Os músicos não entendem e Jorge não entende. São Seis anos de namoro. Como não pode se casar? Este não é o sonho de toda mulher? Já dormiram milhares de vezes no mesmo quarto, já viajaram juntos, são adultos formados. Um casal apaixonado!! Estão todos assustados. Quando Fabiana ainda aos berros diz:

- Eu não posso me casar com você!! Você não entende? Eu estou grávida!!

A mãe de Fabiana, as gargalhadas:

- Minha Filha, é isso? Eu também casei grávida de você. E isso hoje em dia ninguém mais se preocupa.

- Se você quiser a gente espera o bambino nascer pra fazer a festa. Diz Seu Giovanni pai de Jorge. Um desses Típicos Italianões dono de Cantina.

Os pais em gargalhadas. Se divertindo com a situação nem percebem que Jorge saiu de perto deles e esta indo em direção da varanda. Jorge abre lentamente a janela que dá para a varanda. Era como se estivesse procurando um ar para respirar.

Quando Seu Giovanni diz:

- O meu Filho!! Tá tão feliz que foi tomar um ar!! Um bambino!!

Jorge do lado de fora, já na varanda se vira para dentro do apartamento e solta um grito:

- Grávida?

- Tragam os charutos!! Diz Seu Giovanni.

Jorge cada vez mais exaltado.

- Grávida? Grávida? Sua vagabunda!! Sua desgraçada!! Eu não acredito.

Todos que estavam se recuperando do susto do grito de Fabiana, e agora gargalhavam ficaram em silêncio. Um silêncio se instauro no apartamento. Era possível ouvir a respiração de cada um.

- Quem é o pai dessa criança sua vagabunda? Fazem 02 meses que a gente não transa. E sempre fizemos com camisinha!! Fala sua vagabunda!!

Jorge vai correndo em direção a Fabiana para encher-lhe a cara de pancadas. Mas é contido pelo pai e pelo sogro.

- Fala Vagabunda!!

- Não fala assim a minha filha, gritava Dona Jeanete, sem saber o que fazer.

- Pega um copo de água pra menina. Gritava alguém. Alguém segura esse rapaz. Gritava outro.

Depois de quase 15 minutos de muita confusão e gritaria onde nada se podia entender. Se instaura novamente o silêncio. Fabiana esta sentada no lindo sofá. Abraçada pela mãe. Encostado na parede que separa a sala de estar da sala de jantar esta Jorge desconsolado, os pais de Jorge estão sentados na outra ponta da sala. E ainda dentro da sala de TV sem arredar o pé estão os músicos. Quando se houve uma voz embargada, numa mistura de soluço e choro. que diz um nome.

- Marcos.

É Fabiana.

- O Marcos é o pai do filho que eu to esperando.

- Que Marcos? Quem é este filho da puta?

- Ele estudava no Santo Antonio. Ele tá trabalhando lá no escritório como Motoboy faz uns 03 meses. Quando ele me viu veio tentar algo comigo e eu disse que estava namorando com você, mas você foi se afastando. ficou longe, só pensava no trabalho. Você mudou muito nesses últimos meses.

- Eu tava mobiliando e preparando esta casa pra você, sua vagabunda!!

- Eu resisti o quanto eu pude, mas com a carência ele se fez presente...

- E você de presente deu pra ele né? Tava ali facinho.

Jorge estava cada vez mais enlouquecido. Nem parecia aquele jovem educado, cortez que todos estavam acostumados. A cada resposta dada por Fabiana, Jorge quebrava um dos vasos que enfeitava a casa.

Os pais dele o seguraram, ele se desvencilhou dos pais chegou perto da Fabiana. Foi o maior momento de tensão. Todos tinham certeza de que Jorge iria bater em Fabiana, mas ele a abraçou. E disse:

- Por que? Eu te dei tudo. Anel com diamante, Casa... ah!! o Carro!! Sabe aquele carro lá embaixo é seu!! Eu te dei tudo. E você faz isso comigo...

Jorge aos prantos.

- Desculpa... me desculpa!!

Diz Fabiana. Jorge então levanta o rosto de Fabiana, olha para ela e diz:

- Isso que você fez não tem perdão. Mas eu quero que você tenha este filho. Que você crie ele nesta casa. E todos os dias quando você olhar pra ele você vai se lembrar de mim.

- Claro meu amor, Diz Fabiana.

- Você vai se lembrar que a culpa foi sua. Que a única culpada por isso é você. Você vai carregar o peso disso até o fim da sua vida.

Jorge então beija a testa de Fabiana e sai correndo em direção da Varanda. E salta para a morte.

Nenhum comentário: